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29/08/2009

O palestrante e a legalidade

Parece brincadeira, mas nem todo palestrante dá atenção à questão da legalidade no exercício de sua profissão. O palestrante não pode se esquecer de que sua carreira é exemplar e ele é um formador de opinião. Muitas pessoas estão atentas à coerência do seu discurso.

A primeira providência é trabalhar dentro da legalidade, ou fornecendo recibo de profissional autônomo, ou constituindo uma empresa e fornecendo nota fiscal de serviços. Se optar por trabalhar na informalidade, tenha em mente que nunca irá conseguir crescer além de um certo limite. Empresas grandes não contratam serviços de profissionais informais, sem recibo ou nota fiscal.

É claro que algumas empresas menores podem propor algum tipo de alternativa, como fazer pagamento por fora e não exigir nota fiscal em troca de algum tipo de desconto. Quando isto acontece, costumo apresentar alguma razão para não fazer isso.

Inicialmente eu brinco que meu contador me matará se eu não emitir nota. Se o cliente ainda assim insistir, sou mais direto: eu não posso falar de coisas como ética, cidadania, crenças e valores para seus funcionários se eu mesmo não agir assim. Mas é raro acontecer, mesmo porque a grande maioria das empresas que atendo são empresas grandes.

A maioria de minhas palestras e treinamentos é realizada sem um contrato formal, ficando apenas o que tratamos verbalmente, os emails e a proposta valendo como carta de intenções. Nunca tive algum problema que exigisse que eu recorresse a um contrato, portanto deixo que o cliente peça se precisar. 90% das vezes não pede e as coisas funcionam mesmo assim.

O conteúdo do palestrante deve ser legal. Refiro-me à sua apresentação, textos, imagens, vídeos, músicas etc. Muita coisa disponível na Internet não é necessariamente gratuita, portanto é bom verificar se as fotos, os vídeos e as músicas que você utiliza não é material protegido por direitos. Do mesmo modo como você não gostaria que outros usassem suas palestras para ganhar dinheiro às suas custas, não vai querer fazer o mesmo.

Se quiser ter certeza de que suas fotos são legais (muita coisa na Internet é pirata), compre os direitos de uso das imagens. É muito barato e há sites que popularizaram a venda de fotos, como o www.istockphoto.com Como no passado fui cartunista, prefiro usar imagens de minha autoria em minhas palestras.

Você não pode passar vídeos inteiros em sua palestra, se estes tiverem direitos reservados, mas pode passar um breve trecho, pois isto tem o mesmo efeito de você citar um parágrafo de um livro, por exemplo. Três minutos de um filme de duas horas não passam de uma citação da obra, e além disso está sendo feito para fins educacionais e até mesmo para a promoção da obra, como se fosse um trailer. Mantenha sempre os créditos. Normalmente é isto o que é feito por palestrantes em treinamentos, mas se tiver dúvidas quanto ao modo como pretende usar vídeos, consulte um advogado de direitos autorais.

O uso de música em palestras já é um pouco mais complicado. Às vezes o próprio organizador do evento coloca música de fundo antes e depois de sua palestra, e é responsabilidade dele fazer o pagamento dos direitos autorais ao ECAD, que cuida disso no Brasil. Se a sua palestra utilizar música, então é quase certeza de que você será obrigado a pagar direitos autorais. Consulte o www.ecad.org.br

Alguns palestrantes têm a preocupação no outro sentido: nunca entregar ao cliente sua apresentação para evitar que roubem suas idéias. Há quem exija que, se a apresentação em Power-Point for copiada para o micro do evento, ela deve ser apagada assim que terminar a palestra.

Existe também uma preocupação muito grande quanto à filmagem, mas numa época em que cada celular é uma filmadora, é muito difícil você controlar isso. O que você vai fazer se perceber alguém na audiência filmando sua palestra com o celular? Vai interromper a palestra para mandar a pessoa parar? Vai confiscar o aparelho? Se você for bom no que faz, não vai encontrar apenas um fazendo isso, e se quiser se indispor com a platéia e sair dali com fama de vilão, experimente impedir.

Eu não me preocupo nem um pouco com isso. Podem filmar, copiar, usar minas apresentações, não importa. Até hoje isso me trouxe mais lucro do que prejuízo. Eu mesmo publico trechos de palestras no Youtube e já fui contratado várias vezes por empresas que viram meus vídeos.

Não se preocupe, se alguém roubar um vídeo seu para exibir para os funcionários da empresa, certamente será uma empresa que jamais iria contratar você. Ao ter seu vídeo pirata exibido para 200 ou 300 funcionários de lá, você ainda tem chances de um dia alguém de lá ir trabalhar em uma empresa que contrata palestrantes e sugerir você. Se não roubarem o seu vídeo para exibir naquela empresa, você terá perdido uma chance de isto acontecer.

Aliás, este é o argumento do Youtube para as gravadoras que têm chiliques quando vêem um clip de um artista seu exibido no Youtube. Obviamente o Youtube retira o vídeo do ar quando a gravadora reclama, mas seu argumento é que aquele vídeo conseguiu atrair a atenção de um milhão de pessoas que agora podem estar dispostas a comprar CDs daquele artista. A alternativa é aquele um milhão de pessoas nunca ter visto o artista. As gravadoras deviam aproveitar esse poder de atração e promoção que o Youtube cria, não lutar contra.

Geralmente "abandono" o arquivo com minha apresentação no computador do evento. Já fui contratado por uma empresa cujo funcionário fez circular em sua rede minha apresentação que recebeu de um amigo. E se outro palestrante usar? Pior para ele, porque minhas apresentações são muito personalizadas. Mesmo assim não me preocupo que alguém que não seja o Mario Persona pode até fazer a mesma apresentação, mas continuará não sendo o Mario Persona. Existe muito de pessoal na atividade do palestrante, algo como acontece com um cantor, por exemplo. Eu posso cantar a mesma música que o Roberto Carlos canta, mas ninguém irá querer pagar para me ouvir.

23/08/2009

O palestrante e seus equipamentos

Certa vez, em uma reunião prévia dos palestrantes com o cliente para um grande evento, este perguntou a cada um de nós palestrantes qual equipamento iríamos precisar para a palestra.

Cada palestrante expôs suas necessidades, principalmente de projeção, som, computador e microfone. Quando chegou a vez do experiente José Augusto Minarelli, ele disse simplesmente: "Um copo d'água". O cliente imediatamente disse que iria pedir para alguém servir água na sala, mas ele explicou que não era ali, era na hora da palestra.

Bons palestrantes conseguem fazer uma boa apresentação e reter a atenção do público só no gogó. Quem teve a oportunidade de ver um monólogo de duas horas com Paulo Autran sentado num banquinho no palco sabe o que é a soma de bom conteúdo com muito talento. As duas horas pareciam poucos minutos.

Com a tecnologia multimídia cada vez mais acessível, o palestrante deve tomar cuidado para não cair no erro em que caíam as gráficas quando começaram a fazer serviços usando o computador.

Antes elas tinham um número limitado de fontes para utilizar em seus textos e anúncios publicitários montados à mão. De repente, CDs com milhões de fontes ficaram disponíveis em todas a bancas e vivemos uma época quando os anúncios em jornais e revistas mais pareciam bilhete de sequestrador, daqueles que vêm com palavras montadas com letrinhas recortadas de jornais e revistas. Um verdadeiro festival de fontes.

O palestrante que se deixar seduzir pela tecnologia vai acabar indo pelo mesmo caminho e levando um caminhão de aparelhagem para sua apresentação. Alguns realmente necessitam disso, pois promovem shows de entretenimento dignos de um cassino de Las Vegas, com mágicas, danças e jogos de luz.

Mas a maioria não precisa disso e é bom ter em mente que quanto maior a parafernália tecnológica, maior sua bagagem e a exigência de pessoas para ajudarem a controlar tudo isso. Como você nem sempre encontrará gente habilitada para controlar seu show, pode acabar precisando levar gente só para isso, o que irá encarecer seus honorários.

O melhor mesmo é limitar ao máximo o uso de equipamentos e também evitar investir nisso. Alguns palestrantes compram seu próprio projetor (data-show) só para descobrirem depois que é um equipamento muito sensível e cuja lâmpada tem data de validade e custa quase o mesmo que o equipamento.

Também não vejo razão para levar seu próprio microfone, a menos que só consiga falar com um determinado tipo. Isto acontece quando o palestrante precisa usar as mãos durante sua apresentação ou é portador de alguma deficiência. Lembre-se de que, além de ficarem obsoletos rapidamente, equipamentos quebram, e é melhor que isto aconteça com o equipamento do cliente do que com o que você levou. Se acontecer com o seu, você será responsabilizado pela falha.

Se não for este o caso, o melhor mesmo é deixar que o cliente providencie tudo, pois há empresas especializadas para isso e o custo é irrelevante. Geralmente essas empresas dispõem de equipamentos de contingência e podem até enviar um técnico para controlar o equipamento.

Normalmente eu levo meu notebook e um pendrive com a apresentação, mas na maioria das vezes acabo usando o computador do próprio evento, que já está ligado e sendo usado por outros palestrantes. Não tem cabimento você exigir que o seu notebook seja ligado, a menos que tenha conteúdo exclusivo que só funciona em sua máquina.

Outro equipamento que levo e, este sim, considero importante, é um controle remoto para a troca de slides. É péssimo fazer uma palestra dizendo "o próximo, por favor", para um sonolento encarregado de mudar os slides em um micro longe de você.

18/08/2009

O palestrante-autor e a noite de autografos

Depois de publicar seu livro on demand, como ensinei no texto anterior, o palestrante vai precisar divulgá-lo. Além das opções normais de publicar em seu site, enviar uma mala direta ou anunciar na mídia, uma forma de divulgar é ter um lançamento ou noite de autógrafos, que pode acontecer várias vezes e em vários lugares para um mesmo livro.

Aqui também não será inteligente o palestrante gastar dinheiro, a menos que tenha condições de trazer um público considerável ao evento e ter certeza de que aquelas pessoas comprarão seu livro. Digo isto porque no Brasil nem todo mundo sabe o que é uma noite de autógrafos. Muita gente ainda acha que é uma oportunidade de ganhar um livro autografado, tipo uma noite de distribuição de amostras grátis.

Se preferir não investir, o palestrante pode optar por parcerias que podem ou não envolver uma palestra sua. Alguns promotores de eventos podem topar promover uma palestra mediante venda de ingressos que inclua um livro autografado, e aí também vai depender do peso do palestrante no mercado. Palestrantes de destaque vão ganhar na palestra, cobrando por ela, e na venda do livro, que deve ficar sempre a cargo de outras pessoas.

Não fica bem você descer do palco e ir correndo para a banca de livros fazer troco, conferir cheques, e ainda autografar. Neste momento as pessoas querem conversar com o palestrante-autor e não vê-lo atrás de um balcão.

Você pode também fazer uma parceria com algum dono de restaurante, bar, livraria, bufê ou qualquer estabelecimento que veja numa noite de autógrafos uma oportunidade para aumentar seu movimento. Inaugurações, estandes de feiras de empresas, eventos cívicos -- tudo pode ser aproveitado como oportunidade de divulgar e vender seus livros. O importante é que tenha público com o perfil adequado e que seu investimento seja o mínimo possível, aproveitando o momento criado por outros.

É bom lembrar que mesmo que não apareça ninguém em sua noite de autógrafos, o mais importante é o que a mídia vai dizer do evento, porque a mídia, formal ou de blogueiros, é que realmente irá multiplicar sua exposição.

Por exemplo, se você fizer as contas e achar que vai gastar mil dinheiros para lançar seu livro em uma livraria de shopping acompanhado de um coquetel, sugiro que use o dinheiro para comprar uma passagem para Nova Iorque.

Aí você arma uma mesa com seus livros no Central Park onde perceber que existe uma aglomeração e pede para alguém tirar fotos. Depois é espalhar seu release com o título “Brasileiro lança livro em pleno Central Park de Nova Iorque”.

Quem você acha que vai aparecer mais na mídia, você ou o Paulo Coelho em noite de autógrafos em alguma livraria por aí? O Paulo Coelho, claro, mas mesmo assim você vai aparecer mais do que se estivesse lançando seu livro em outra livraria do mesmo shopping.

11/08/2009

Palestrante e escritor

Já falei aqui de como um livro ajuda na imagem do palestrante. O livro faz o palestrante subir de status, já que escrever um livro é o sonho de todos nós. Mesmo assim, escritores são raros porque as pessoas preferem gerar filhos, que é considerado lazer, a plantar árvores e escrever livros, que exigem trabalho.

Se você é um palestrante que conseguiu escrever seu livro, já deve estar se sentindo esgotado depois da milésima porta que levou na cara das editoras que consultou. A solução é partir para a auto-publicação. A menos que você tenha uma centena ou mais de compradores certos, tipo família grande e todo mundo devendo favores, não invista seu dinheiro na impressão de seu livro.

A razão é simples: seu carro vai passar o resto da vida ao relento, porque a garagem vai ficar cheia de livros encalhados. O segredo do mercado de livros não está em imprimir, mas em distribuir. A menos que você consiga colocar seu livro no esquema editora-distribuidora-livraria, é melhor mandar imprimir só um exemplar e vender daqui a mil anos como livro raro.

Ou então usar os serviços de impressão sob demanda ou on demand para publicar sem gastar. Aliás, esta é a verdadeira essência do “publicar”, que é tornar público sem necessariamente “imprimir”. O livro fica disponível na Internet e só é impresso quando alguém compra. Os serviços que conheço são Lulu.com (EUA), CreateSpace.com (Amazon EUA), Clube de Autores (Brasil) e Bubok (Portugal).

O seu custo será zero, se você não precisou gastar com ghost-writer, revisor de texto e designer de miolo e capa. Mas seria uma boa idéia gastar nisso tudo se você não tiver talento para escrever, seu texto ser recusado pelo corretor ortográfico do Word, ou decidir usar a pintura a dedo de seu filhinho como capa.

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