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21/11/2012

Memoria de palestrante

Muita gente pensa que palestrante tem boa memória, mas não é bem assim. Ministrar palestras é como andar de bicicleta: você aprende e não se esquece mais. Não que as palestras sejam sempre iguais, mas a bicicleta do palestrante - quero dizer, o veículo - é o mesmo. Por veículo entenda o meio de comunicação e todos os acessórios que estão sempre ali: rodas, pedais, selim, buzina, enfeites, bagageiro etc.



O tema do palestrante pode variar, mas ele sempre poderá usar os mesmos acessórios, como os pedais para dar impulso ao tema. É aí que entram as histórias, os "causos" (´para palestras no interior), os "cases" (para palestras nas capitais e multinacionais), o humor etc. Meu neto adora brinca de Lego e ele já descobriu que as peças que vêm na caixa para montar o helicóptero da polícia podem ser transformadas em nave espacial, casa, barco etc. Tudo depende da criatividade de quem as encaixa e o vovô obviamente gosta da economia que isso traz.

Portanto, não pense que a memória do palestrante é de elefante, ainda que ele tenha o ventre um pouco saliente. Eu mesmo sou obrigado a conviver com uma memória de pulga e vivo esquecendo coisas. Escrevo esta do aeroporto, vindo de uma palestra e a caminho de outra. Sabe o que acontece quando um palestrante esquece sua pasta com notebook contendo todo o material das palestras, 2 tablets e chave do carro em um banheiro de aeroporto? Eu sei.

Primeiro vem o susto e o palestrante exclama "Ué?! Cadê...?!" Aí ele conta os itens de sua bagagem. Como eu sei contar até dois para mim foi fácil. Parei no um.

Então aquele coração acostumado a tirar de letra plateias com centenas de pessoas sem aumentar o ritmo um batimento sequer dá um salto. A pulsação aumenta como só acontece nas palestras em que alguém faz uma pergunta difícil ao palestrante. O suor começa a escorrer pela face como naquele evento no Norte do país ao qual você foi de terno de lã e descobriu que a palestra seria no chão de fábrica sem ar condicionado.

O frio na barriga vem a seguir e dá o sinal de alerta: Se não foi no banheiro que o palestrante esqueceu sua pasta é melhor ir procurar primeiro lá, porque vai precisar. Aí o palestrante desanda a correr pelo aeroporto como se estivesse perdendo o voo, mas o problema é que, no meu caso, eu estava no sentido contrário ao da sala de embarque.

Próximo ao banheiro encontrei um funcionário da segurança saindo com minha pasta na mão. Alguma alma assustada deve ter avisado a segurança que havia um objeto suspeito - quiçá uma bomba (se você não sabe o que é "quiçá" é melhor melhorar seu vocabulário antes de começar a fazer palestras) - e eu imediatamente me prontifiquei a desarmá-la.

Desarmado também foi meu ventre, que por uma curiosa propriedade fisiológica imediatamente interrompeu o outro processo que ameaçava explodir. As duas pastas estavam agora seguras.

Daqui a pouco embarco a caminho de Porto Alegre, tchê!, com minha pasta bem atada à sela de meu alazão e pensando em procurar na Web onde posso comprar algemas para me ligar a ela. Quanto à pessoa que avisou a segurança, não sei que fim levou. Se pensou mesmo que era uma bomba deve ter corrido para o outro banheiro.

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