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28/03/2011

Estigma de palestrante

Recebo muitos emails de pessoas que desejam ingressar no mercado de palestras. Querem ser palestrantes, mas nem sempre têm uma ideia clara do que isto significa. Quem é palestrante já passou por situações em que alguém trouxe à tona o estigma do palestrante. É meio parecido com o estigma que têm algumas outras profissões, como vendedor ou consultor.


Se você já atua na profissão de palestrante, tente se lembrar de algum episódio assim: Você encontra um velho amigo dos tempos de escola e invariavelmente a pergunta é "o que você está fazendo?". Então ele explica que está em tal e tal empresa, em tal e tal posto, fazendo isso e aquilo. Aí chega a sua vez: "Sou palestrante". Nessa hora surge um sorriso maroto, desses do canto da boca, acompanhado de um "Aahhh... palestrante.... sei...". Pela expressão você até adivinha o que ele está pensando:

  • [a] "Ficou desempregado e não conseguiu nada melhor".
  • [b] "Virou palhaço corporativo para entreter empregados de empresas".
  • [c] "De que esse cara entende?! Eu conheço ele desde menino!!"
  • [d] "Eu suando a camisa e esse cara aí ganhando no mole, só no gogó!"
Vamos analisar as alternativas do pensamento de seu amigo:

[a] "Ficou desempregado e não conseguiu nada melhor".
Muitos palestrantes ficaram sim desempregados e precisaram sim encontrar uma alternativa para comprar o feijão. Em uma economia dinâmica como a atual, não raro cérebros valiosos ficam disponíveis no mercado por causa da idade e do preço. Empresas dispensam um e, pelo mesmo preço, contratam dois ou mais com a metade da quilometragem. Se até ex-presidentes viram palestrantes, não deve ser tão mal assim.

[b] "Virou palhaço de luxo para entreter multidões".
Qualquer pessoa que entenda um pouquinho de comunicação saberá que o humor é o melhor adesivo para o cérebro. Os melhores comunicadores são aqueles que conseguem passar conteúdo mesclado com humor para driblar os preconceitos mentais. Nosso hemisfério esquerdo, o lógico, é racional e crítico, enquanto o direito é extremamente inclusivo. Com o primeiro analisamos, com o segundo sonhamos. Uma mensagem técnica, lógica e racional cairá na censura do esquerdo, enquanto uma música, poesia ou anedota irá direto, na íntegra, para a memória gerenciada pelo hemisfério direito (tudo isso é baboseira conceitual só para entender, não tente repetir em casa e pare de rir se você for neurologista). Por isso nós nos esquecemos facilmente de um texto lógico e racional que passamos horas decorando e guardamos para toda a vida a anedota que ouvimos apenas uma vez. Também por isso você não consegue esquecer aquela música que odeia e que ouviu de raspão em algum lugar.

[c] "E o que esse cara entende?! Eu conheço ele desde menino!!"
Esta é clássica e natural, por isso sempre aconselho os palestrantes novatos a se lançarem fora de sua cidade. A frase "santo de casa não faz milagre" ou "ninguém é profeta em sua própria terra" vale sim senhor, e muitos palestrantes acabam desistindo de tanto dar murro em ponta de faca. As pessoas que o conhecem geralmente se lembram da última vez quando se encontraram, e isso foi há duzentos anos no grupo escolar. Pouca gente saberá que você virou o mundo, estudou aqui e ali, trabalhou em tal e tal lugar, e carrega uma bagagem enorme de know-how. Tudo o que vão se lembrar de você em sua cidade (ou em seu bairro, se morar em uma cidade grande) é como você era assim que saiu do ovo. É verdade, naquela época você só sabia piar.

[d] "Eu suando a camisa e esse cara aí ganhando no mole, só usando o gogó!"
Esta muita gente pensa, mas não diz. Se fazer palestras fosse apenas falar, isto por si só já eliminaria um grande número de candidatos, porque muita gente prefere morrer a falar em público. Mas não é só falar - é também o que falar, como falar, quando falar, por que falar, onde falar... Existe toda uma técnica na mensagem e existe toda uma bagagem no conteúdo. Não preciso nem contar aqui a história do cara que cobrou mil reais para dar uma martelada na máquina para fazê-la funcionar. Um real era da martelada e novecentos e noventa e nove por saber o ponto exato onde bater.

Acredito que a maior barreira que seu amigo precisará vencer seja justamente a letra "d", e isso pode desanimar você por também acabar achando que está ganhando no mole. É que dá a impressão de uma tremenda injustiça você ganhando dinheiro fazendo algo tão prazeroso quanto ensinar as pessoas, viajar e conhecer pessoas e lugares, ficar em bons hotéis, enquanto ele dá um duro danado, trabalha que nem um cão e mal vê o dinheiro no fim do mês, todo ele comido pelas contas.

Não desanime e nem se desvalorize com essas más impressões causadas na mente de algum amigo seu. Se ele pensa assim, aí é que precisa mesmo assistir uma palestra sua. Quem conseguiu chegar lá, nessa posição tão confortável aos olhos dele, merece ser ouvido, não merece? Ajude seu amigo se perceber nele alguma ambição, mas não perca o seu tempo se a reação não passar de inveja. A diferença entre uma coisa e outra?

Ambição é quando seu amigo, que rala de sol a sol, vê você bem sucedido na profissão de palestrante, e diz: "Amanhã vou estar como ele hoje está!"

Inveja é quando seu amigo, que rala de sol a sol, vê você bem sucedido na profissão de palestrante, e diz: "Amanhã ele vai estar como eu hoje estou!"

4 comentários:

Elizabete Ferreira disse...

Adorei!!estava fazendo uma breve pesquisa sb palestrante.achei muito rico. bravo

Unknown disse...

Amei!!! Parabénss!!!
Gostaria de saber mais sobre como se tornar um palestrante.

Zirla disse...

gostei muito deste artigo.
Tenho estudado sobre como me tornar um palestrante e gostaria de saber mais sobre este tema.

Zirla disse...

Gostei muito do seu artigo sobre ser um palestrante.tenho esse desejo e gostaria de mais informações sobre.

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