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25/09/2012

O palestrante versatil

Se você pretende seguir a carreira de palestrante saiba que irá precisar de muito jogo de cintura para se adaptar aos diferentes lugares e situações. A menos que você seja uma estrela de primeira grandeza, nem pense em fazer grandes exigências quanto ao local e instalações para sua palestra. O palestrante versátil sabe se adaptar a tudo. Pense nisto antes de criar uma palestra daquelas que exigem a tecnologia, instalações e complexidade de um picadeiro do Cirque du Soleil.



Por falar nisso uma de minhas palestras numa cidade de interior foi em um picadeiro de um pavilhão de exposições e leilão de gado. Minha preocupação era algum espectador mais distraído dar um lance e tentar me comprar para seu rebanho. A tela tinha sido improvisada com um lençol sujo pendurado em um varal de arame. O vento - sim, o picadeiro era aberto nas laterais, só coberto - passava por entre as pernas da platéia em uma arquibancada de tubos e tábuas e balançava o lençol desfocando o tempo todo meus slides do Power Point. Mas não devia fazer muita diferença para o público, já que o velho datashow do promotor do evento devia ter um pavio no lugar da lâmpada. A luz que saía dele chegava se arrastando ao lençol.

Porém, se em alguns lugares o palestrante enfrenta dificuldades pela falta de recursos, em outros o problema está na estupidez humana. Em outro evento num auditório bem montado, equipado e refrigerado, a faixa do patrocinador ficava bem sobre a tela de projeção, e era iluminada por um brilhante holofote que transformava qualquer slide na tela numa anêmica sombra quase imperceptível. Avisei o organizador do evento que o holofote deveria ser apagado assim que eu começasse a palestra, o que ele fez usando um interruptor no fundo da sala.

Eu mal tinha começado minha palestra quando um jato de luz voltou a dar notoriedade à faixa do patrocinador, transformando as cores de meus slides em tons de iceberg. Era o patrocinador que tinha conquistado o acesso ao interruptor e fazia questão de deixar claro que sua faixa não podia ficar no escuro. E foi assim a palestra inteira, com a projeção na tela parecendo iluminação de Natal. Ora era o organizador que apagava o holofote, ora era o patrocinador que acendia. Tudo entremeado pelo bate-boca dos dois que dividia a atenção da platéia entre os que queriam ver minha palesta e os que torciam para ver sangue.

Um comentário:

Adriana Mantana disse...

Amo o seu blog, sempre aprendo algo novo. Parabéns!!!

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