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01/08/2017

Palestrantes enganam?

Um vídeo apareceu no menu do Youtube e tive a curiosidade de clicar. Era alguém criticando a profissão de palestrante e apresentando argumentos aparentemente plausíveis... para alguém que não sabe o que um palestrante faz. Um dos argumentos era que a maioria dos palestrantes nunca vivenciou na prática aquilo que fala em suas palestras, portanto não estaria qualificado para falar. Mas a pergunta que não quer calar é: Alguém que faz um vídeo para criticar a profissão de palestrante acaso sabe o que é ser palestrante? Já vivenciou na prática o que é a profissão?

Quando você compra uma revista encontra nela seções de política, economia, artes etc. Na seção de arte provavelmente irá encontrar um bom crítico que nunca subiu num palco ou ficou diante de uma câmera. Na seção de política é muito provável que aquele jornalista que consegue virar no avesso o que está acontecendo em Brasília para você entender jamais ocupou um cargo na administração pública. E o jornalista de economia pode nem ser economista, como muitos que estão por aí e entendem de economia como ninguém.

Percebeu a comparação? Um bom jornalista não precisa ter vivenciado aquilo que é o tema de seus artigos, mas precisa ser inteligente e capaz de obter informações a respeito, traduzi-las e passá-las aos leitores. O argumento de que alguém precisaria ter vivido aquilo que ensina morre na praia das universidades. A maioria dos grandes mestres das escolas de administração de onde saem grandes empresários jamais esteve à frente de uma empresa e provavelmente seria um desastre se tentasse. Sua função é ensinar, não praticar.

Pode parecer estranho dizer isso, mas é preciso entender que os olhos enxergam muito mais longe do que os pés alcançam, e é assim com um professor, e é assim com um palestrante. Uma vez vi uma palestra de um grande conhecedor de administração de empresas que em dez minutos conseguiu fazer a plateia de mais de mil pessoas se transformar em uma dúzia de sonolentos espectadores. Ele entendia muito, mas não era um comunicador, e aí entra a outra capacidade do palestrante, que é de traduzir e comunicar seu tema.

Outro argumento do vídeo era o de que o palestrante é contratado pela empresa para "enganar" os funcionários e fazer com que se esforcem ao máximo ganhando a mesma coisa. Ora, não é este o papel de qualquer técnico esportivo, seja ele de um grande time, seja de um time de várzea que chuta a bola em troca da salsicha e da caipirinha no boteco? Ele não está ali para oferecer melhores salários, ele está ali para ensinar o profissional a tirar o máximo de si e ter moeda de troca visando uma promoção baseada em competência.

Além disso, quando um palestrante ajuda seu público a descobrir seu potencial, agrega a cada um algo que ninguém lhe irá tirar e poderá ser usado não apenas na empresa onde trabalha naquele momento, mas em toda sua vida pessoal e profissional. Este é inclusive um dos receios de alguns empresários que contratam palestras e treinamentos: o risco de seus colaboradores acordarem para seu verdadeiro potencial e ficarem melhores que o chefe. Não são poucos os que eram empregados em uma empresa tiveram sua hora da virada depois de uma palestra que os motivou a caminhar com as próprias pernas em um negócio próprio.

E aí entra também outra falácia dos argumentos daqueles que criticam a profissão de palestrante. Qual é o objetivo de um profissional? Não é ser bom no que faz? E se um bom palestrante consegue manter durante décadas uma carreira bem sucedida e lucrativa apenas falando, onde está o problema? Isso só demonstra que ele é bom naquilo que faz, porque se não fosse já teria sido julgado e execrado pelo mercado há muito tempo. As empresas conversam entre si e trocam informações pró e contra esses profissionais. Existem os maus palestrantes, mas são como marcas ruins que desaparecem do mercado.

Um outro ponto me vem à mente no caso do autor do vídeo tão crítico contra a profissão. Será que não existe naquele que critica uma pontinha de inveja? Algo do tipo: "Eu aqui dando um duro danado, trabalhando de sol a sol, e aquele cara vai lá e em uma hora ganha só no papo o que levo um mês pra ganhar!". Hmmm....

Mas minha mensagem aqui não é para os críticos, e sim para incentivar e motivar os que buscam seguir a carreira de palestrante. Se você se sente inibido por não ter o currículo de um grande empresário de sucesso, não se preocupe. Grandes empresários de sucesso estão ocupados demais dirigindo suas empresas e não terão tempo de fazer palestras. Ou escrever artigos em revistas, como fazem os jornalistas. Talvez não sejam também tão bons comunicadores quanto você.

Portanto procure aprender bem o que deseja transmitir, trabalhe bastante sua comunicação e aprenda com os jornalistas, que são capazes de descrever uma cirurgia de cérebro com uma maestria que nem cirurgiões conseguiriam, e isso mesmo que sejam daqueles que desmaiam quando veem sangue. Em sua profissão você só precisará captar a essência daquilo que seu público precisa conhecer e comunicar isso muito bem atendendo a expectativa de quem contratou.

Nem o jornalista, em sua revista, nem o palestrante, em seu palco, está ali para abrir a cabeça de alguém e fuçar em seus neurônios com bisturi e de modo literal. Ele está ali apenas para informar, motivar e inspirar sua plateia, o que também é, de certo modo, fuçar nos neurônios da plateia, mas sem derramar sangue. E se conseguir fazer isso bem, onde está o problema?

Agora um "causo" para ilustrar. Em 2002 o gerente de segurança de um grande conglomerado industrial me ligou. O diálogo foi mais ou menos este:

— Mario, você faz palestras de segurança no trabalho?
— Não, eu não sou engenheiro ou técnico de segurança, não entendo nada do assunto.
— Nós estamos procurando alguém que não entenda do assunto para uma série de palestras.
— Mas por que não querem alguém que entenda?
— Temos problemas sempre que contratamos especialistas, pois eles acabam ensinando coisas que não são compatíveis com os procedimentos específicos de nossos processos e deixam os colaboradores confusos. Queremos alguém que fale apenas de comportamento, de segurança comportamental, de como nossos colaboradores colocarem em prática tudo o que aprendem nos treinamentos internos.
— Bem, se estão procurando alguém que não entenda nada do assunto, acredito que meu currículo está perfeito.

Depois de uma reunião para receber o input das necessidades da empresa e preparar uma palestra de teste para um grupo de gerentes, engenheiros e técnicos de segurança, seguida do "mude isso", "inclua aquilo", "altere aquilo outro" fui contratado para ministrar dezoito palestras para um total de sete mil colaboradores.

Depois daquela experiência pensei: "Por que não colocar este tema em meu site para ver o que acontece?". Foi então que descobri que a maioria das grandes empresas procura por palestrantes de segurança comportamental, que tenha influência sobre o comportamento da plateia, mas não sobre os procedimentos e técnicas em que já são treinados pelos próprios especialistas da empresa. Segurança eles já aprendem na empresa; mudança de comportamento eles precisam aprender com um profissional de comunicação trazido de fora, porque "santo de casa não faz milagre".

Hoje mais da metade de minhas palestras são de Segurança Comportamental, mas só atendo empresas grandes que já tenham uma política de segurança, engenheiros, técnicos e colaboradores treinados em segurança no trabalho. Quando a empresa não tem eu encaminho para algum engenheiro ou técnico de segurança, porque aí não estão precisando de mim, mas de alguém para colocar a casa em ordem.

Invariavelmente meus clientes costumam ficar muito satisfeitos com minhas palestras de segurança comportamental e acabam me indicando para outras plantas do mesmo conglomerado ou até para clientes e fornecedores, ou me chamam para outros trabalhos. Entrego aquilo que me contratam para entregar: uma equipe motivada, cheia de atitude e disposta a colocar em prática tudo o que foi ensinado nos treinamentos internos. E antes que me pergunte, sim, eles sabem do quanto eu entendo do assunto. Ou seja, nada!


3 comentários:

Ulisses Fontes disse...

Perfeito, obrigado pela aula.

Unknown disse...

Excelente! Obrigado mais uma vez.

Cristiana Oliveira disse...

Ora pois, empresas se preocupam com técnicas e produção e em apresentar regras, obrigações e protocolos. A parte de cuidar da emoção dos colaboradores é a última preocupação. O advento da ideia muito bem vinda E necessária ao mundo empresarial é uma evolução que torna a empresa humana como tem que ser, pois ela é feita de pessoas. Sendo assim, o mercado de palestras é uma '' profissão'' promissora, sem dúvida!

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