Muita gente tem curiosidade em saber como alguém vira palestrante. Ser palestrante é um destino ao qual se chega por vários atalhos. Ninguém leva você lá, mas é você quem precisa carregar sua bagagem. A atividade é consequência de outras atividades e experiências que são colocadas numa caixa de talentos, que depois é embrulhada para presente com papel de comunicação e amarrada com um laço de persuasão. No meu caso...
...FOI ASSIM.
Sou um contador de histórias. "Causos", histórias e analogias são os habitantes de minha mente, o combustível de minha pena, e a atração de minhas palestras. Quando comecei a escrever e falar assim, eu tinha dois objetivos. O primeiro era ajudar aqueles que tinham sido atingidos em cheio pelo fenômeno Internet, e não tiveram tempo de anotar a placa.
Meu segundo objetivo era criar uma estratégia alternativa de comunicação e marketing para a empresa onde eu atuava como diretor. A idéia era inovar, falando das novas tecnologias de maneira informal e usando o popular e digestivo estilo da crônica. Evidentemente tínhamos a intenção criar uma imagem institucional positiva para imprimir nossa marca na mente das pessoas. Meu papel era mesmo o de um tradutor.
Traduzir é hoje uma habilidade valiosa em qualquer empresa. Tanto para para entender o que o cliente diz, como para traduzir para o cliente o que a empresa faz. O famoso SAC, que vemos nas embalagens, deveria ir além do "Serviço de Atendimento ao Consumidor" e significar "SACar o que deseja o consumidor".
Porque é preciso conhecer os clientes, colocar-se no lugar deles, prever seus pensamentos, se você quiser evitar sua repulsa. É importante também identificar as diferenças nos clientes. Cada ser humano é diferente. Se os homens fossem todos iguais, as mulheres não gastariam tanto tempo escolhendo.
Essas diferenças devem então ser transformadas em diferentes táticas de comunicação para explicar o que a empresa faz. O problema é que, para algumas empresas, seu produto ou serviço é algo tão óbvio que elas acabam achando que o cliente saberá decifrá-lo. Mas o óbvio nem sempre é garantia de sucesso. Se fosse, alguém já teria lançado a comida para gatos com sabor de rato, e o lápis número 2 não seria o mais vendido. Todos iriam querer o número um.
A empresa onde eu atuava enfrentava problemas de comunicação por ter debutado cedo demais no baile dos serviços de Internet. Trabalhávamos numa área ainda desconhecida da maioria das pessoas, quando o bug do milênio não passava de larva. Daí a grande necessidade que tínhamos de traduzir conceitos e serviços de e-business para o mundo lá fora.
Isso explica em parte a profusão de analogias encontradas em minhas crônicas. Na época, a comunicação do segmento de Internet criava na cabeça dos clientes um verdadeiro nó. Os oráculos na antiguidade garantiam a posse da Ásia a quem conseguisse desatar o tal do "Nó Górdio". Alexandre, o Grande, desfez o nó com um único golpe de espada, e percebi que era isso que eu precisava fazer, porque o tempo urgia.
Se quisesse me fazer entender, eu jamais deveria usar verbos como "urgir", transformando-me em um tradutor de nossos serviços. O importante não estava tanto em desatar nós, mas em encontrar um paralelo para nossos serviços no universo de benefícios que havia na mente de nossos potenciais clientes.
O excesso de informação técnica, uma característica da área de tecnologia de informação, atrapalhava e deixava a comunicação com cara de letra de médico. As apresentações sobre Internet que os técnicos na época faziam a clientes em potencial eram verdadeiras aulas de sânscrito. Em nosso caso não era diferente, e foi o presidente da empresa quem decidiu dar uma guinada na comunicação e definir o rumo a ser tomado.
Na reunião que mudaria, não apenas os rumos da comunicação da empresa com o mercado, mas também de minha própria carreira, suas palavras foram mais ou menos estas:
"Precisamos de alguém para dar palestras e escrever textos em linguagem acessível; que não seja da área de sistemas, que não seja técnico, e nem entenda de programação".
Todos na sala captaram a mensagem. No fundo, o que ele queria dizer era:
"Precisamos de alguém que seja uma anta em tecnologia, ignorante de pai e mãe em informática, zero à esquerda em Internet, e que não tenha vergonha de bancar o palhaço para entreter e informar ao mesmo tempo".
Após um breve silêncio, todos na sala olharam para mim. A partir daquele dia me tornei palestrante e cronista oficial da empresa.
Dicas do palestrante Mario Persona para palestras, palestrantes, mestres de cerimônia, comediantes, oradores, conferencistas, professores, advogados, políticos, estudantes, apresentadores, líderes, repórteres, jornalistas, formadores de opinião...
Pesquisar este blog
20/05/2010
Como virei palestrante
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Postagens populares
-
Sou palestrante, e isso me coloca entre a população de risco de orgulho. Sim, é fácil você ser vencido pelo orgulho quando tem tantas oportu...
-
Um vídeo apareceu no menu do Youtube e tive a curiosidade de clicar. Era alguém criticando a profissão de palestrante e apresentando argumen...
-
Em 2002 fui contratado por uma empresa para criar um curso de atendimento dirigido a recepcionistas de consultórios médicos dentro do concei...
-
Certa vez, em uma reunião prévia dos palestrantes com o cliente para um grande evento, este perguntou a cada um de nós palestrantes qual equ...
-
Encontrei um texto muito bom com dias para o palestrante lançar seu livro. É claro que antes o palestrante precisa escrever o livro e public...
-
Uma coisa que nunca deixei de valorizar foram os conselhos de meus pais, em especial de minha mãe, ótima negociadora, oradora e empreendedor...
-
Costumo receber e-mails de deficientes físicos que já atuam ou querem atuar como palestrantes. Não tenho nenhuma deficiência além daquelas q...
-
Pode acontecer do cliente ter verba limitada para apresentar uma palestra para cada turno de sua empresa ou para as várias filiais. Em casos...
-
Palestrante curto? Como assim? Bem, não é curto como café, pequeno, e nem uma versão caipira de cultura. Palestrante curto é palestrante suc...
-
Não sei se você sabe, mas eu não sou formado em Marketing e nem tenho pós graduação na área. Caí de paraquedas neste universo de aulas, cons...
Um comentário:
Precisamos de mais antas como vc, Mario...
Postar um comentário