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11/02/2011

O pesadelo do palestrante

No texto anterior falei um pouco de minha fé, da separação entre minha fé e meu trabalho, e também de não pertencer a nenhuma denominação religiosa convencional. E é este assunto que me levou a outro que tem tudo a ver com sua atuação como palestrante: o pesadelo de todo palestrante.


Há mais de trinta anos, quando ainda estava inserido no universo evangélico denominacional, lembro-me de ter visitado uma igreja que tinha uma bela programação para o culto da noite. Um play-back (naquele tempo era em fita cassete) garantia a orquestra de fundo para a congregação cantar com vigor, e assim foi que o culto iniciou, com todos cantando a plenos pulmões.

Mas aquele louvor tão vibrante não durou mais que um minuto. De repente fomos surpreendidos pelo ruído peculiar da fita sendo engolida pelo gravador e imediatamente a orquestra de mentirinha virou um nó. A cantoria parou e todos ficaram olhando perplexos de um lado para outro. Tentou-se continuar o culto na base do improviso, mas era só isso: improviso. Toda a programação daquela noite dependia da fita engolida.

Aquilo foi uma das muitas coisas que me levaram a afastar-me das denominações cristãs e a me congregar com outras pessoas somente ao nome de Jesus, sem qualquer aparato organizacional, clerical ou tecnológico. Afinal - conclui naquela noite - que louvor era esse que precisava de uma muleta tecnológica para alcançar os céus?

Mas o que isso tem a ver com o palestrante? Muito. Outro dia cheguei para uma palestra em um evento importante e, ao tentar abrir minha apresentação em Power Point, o programa informou que o arquivo estava corrompido. Um pouco antes, ainda no aeroporto, eu conseguido abrir o PPT normalmente e fiz algumas alterações. Possivelmente ao gravar ocorreu o erro. O problema era que também tinha salvo o arquivo em meu pendrive, inutilizando assim os dois arquivos.

Como ainda tinha tempo, copiei a apresentação para um computador fora do auditório, a qual abriu normalmente, talvez por ser uma versão diferente do Windows ou do Office. Mas, uma vez copiada de volta ao pendrive, a apresentação não abria em meu notebook.

Percebe como o caso é parecido com o daquele culto da fita enrolada? Quando o palestrante depende demais de recursos tecnológicos pode ficar na mão na hora "H" e sua palestra virar um pesadelo. Você certamente já esteve em alguma palestra em que o palestrante se perdeu todo por causa de um vídeo que não rodou, de uma música que empacou ou da própria apresentação em PPT que deu um chabu equivalente às transparências que caíam no chão e se misturavam nos tempos dos projetores óticos. Se você for do meu tempo irá se lembrar.

Por isso é bom ter sempre uma alternativa na manga, que pode ser a palestra memorizada ou casos interessantes para contar.O importante é que o público perceba o menos possível que você está passando por um pesadelo equivalente a travar a oratória por esquecer o que foi fazer ali.

Uma vez fiquei uns vinte minutos contando casos interessantes enquanto uma equipe técnica tentava descobrir por que as tomadas do auditório ficaram sem corrente, apagando o projetor e meu notebook, que já tinha chegado ali com a bateria no gargalo (alguém desligou uma chave fora do auditório).

Na palestra do arquivo danificado eu ainda tinha uma saída que funcionou: consegui abrir o arquivo PPT usando o BR-Office, o programa open source gratuito que todo profissional deveria ter instalado em seu notebook, ao menos como alternativa ao MS Office, caso este falhe. Salvo por um ou dois slides que traziam apenas um retângulo preto no lugar da foto que devia estar ali, no mais a apresentação estava funcional.

Eu teria tranquilamente usado esse "Plano B", não fosse pela providencial chegada de um gerente da empresa que compareceu com seu notebook cujo PowerPoint leu normalmente minha apresentação. Usei o micro dele.

Fica aqui a dica a você, palestrante: Reduza ao máximo sua dependência de recursos tecnológicos para minimizar o risco de um pesadelo. E sempre tenha um backup de backup, além do arquivo original.

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