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29/11/2012

Homenagem a um cronista e palestrante

Antes de querer ser palestrante eu quis ser escritor. Apesar de escrever desde que aprendi a escrever -- e ter um poema em inglês publicado aos 17 anos de idade -- foi na década de 1990 que encontrei meu estilo. Bem, chamar de "meu estilo" é muita pretensão, porque "meu estilo" eu copiei de alguém muito melhor do que eu. De quem? De um que dizia: "Você só consegue explicar aquilo que entendeu".


Eu sempre fui um leitor contumaz e fã do estilo crônica. O jornal que meu pai assinava podia trazer estampada a manchete do fim do mundo que eu não estava nem aí. Eu ia direto para a página dos cronistas. Embora costumasse ler muitos autores, nenhum me inspirou tanto quanto aquele que, ao comentar a expansão desenfreada do crédito, foi curto e grosso:

"Quem não deve não tem".

Foi em 1998 que precisei fazer palestras e escrever pra valer. Na época era diretor de comunicação e marketing de uma empresa de tecnologia da informação que prestava serviços via Internet, e se eu quisesse fazer palestras ou escrever sobre algo novel assim precisaria encontrar um referencial. Encontrei um palestrante e escritor que tinha um estilo tão econômico e direto quanto os novos tempos anunciados pela nova mídia, e ainda com a capacidade de prever o futuro. Mais tarde, em 2011, ele faria esta previsão:

"O PT é, de fato, um partido interessante. Começou com presos políticos e vai terminar com políticos presos".

Como o mercado de sistemas de supply chain management via Web no qual eu atuava era novo, antes de explicar o serviço era preciso traduzir o meio para os não iniciados, isto é, a Internet. Aquele com quem aprendi tinha o estilo ideal: uma linguagem informal, com frases curtas e parágrafos breves, quase uma conversa fiada. "No futuro as empresas serão pontocom ou ponto morto", dizia ele, e traduzia com tamanha economia a situação econômica em seus textos, palestras e comentários que chegava a ser cômico. Anos mais tarde ele comentaria com estas palavras o disparate entre os impostos de medicamentos para humanos e animais:

"Se você entrar na farmácia tossindo, paga 34% de imposto; se entrar latindo, paga só 14%".

Sim, você já deve ter percebido que as frases são de Joelmir Beting, jornalista, comentarista, cronista de "economês" e palestrante. Em março de 2006, quando lancei meu canal no Youtube, a TV Barbante, escrevi: "O Joelmir Betting com seus comentários enxutos, inteligentes e bem-humorados, foi a minha inspiração quando comecei a escrever minhas crônicas". Afinal, quem poderia ser mais criativo no uso das novas tecnologias do que o Joelmir, flagrado na abertura do Jornal da Band usando o iPad como espelho para se pentear?



Portanto, foi do brilhante jornalista, comentarista e palestrante Joelmir Beting que emprestei meu estilo de cronista, primeiro para escrever sobre temas ligados à Internet e mais tarde para falar de marketing, vendas, comunicação, carreira etc. Joelmir era capaz de traduzir em seus comentários, textos e palestras, com inigualável economia de palavras, conceitos econômicos complexos sem inflacionar a mensagem. Um estilo que continuo tentando imitar.

Se consegui? É claro que não. Basta ver com quantas palavras estou tentando escrever uma simples homenagem ao profissional que foi meu referencial e de quem acabo de ler a última notícia: "Joelmir Beting morreu". Mas vou insistir e tentar escrever uma homenagem breve e cheia de significado:


"Obrigado, Joelmir".

Ok, reconheço que não ficou tão bom quanto ele mesmo teria feito. Nem parecido ficou. Se ele estivesse lendo isto talvez usasse da humildade e bom humor que lhe eram característicos e construísse uma frase parecida como a que lhe é atribuída para comentar a falácia das estatísticas:



"Se eu como um frango e você come nenhum, ambos comemos, em média, meio frango cada um"


Então ele provavelmente teria dito: "Se eu tenho estilo e o Mario Persona tem nenhum, então eu e ele temos, em média, meio estilo cada um".

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