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10/05/2014

A mae do palestrante

Uma coisa que nunca deixei de valorizar foram os conselhos de meus pais, em especial de minha mãe, ótima negociadora, oradora e empreendedora. Tão boa que, quando eu já não estava mais na idade de levar uma chineladas, ela adotou um método teatral para quando eu me recusasse a estudar. Ela ajoelhava na minha frente e implorava para que eu estudasse para ser alguém na vida, fingindo que iria chorar. Eu sabia que era tudo encenação, mas não me sentia bem vendo minha mãe ajoelhada bem ali aos meus pés, e assim prometia logo que iria fazer a lição só para encerrar o teatro. Acho que a parte teatral de minha performance de palestrante eu herdei dela.


Hoje decidi fazer uma pesquisa de quantas vezes citei minha mãe em meus escritos e descobri que não foram poucas. Em uma crônica falando de sucesso na carreira lembrei-me de um de seus conselhos e a real expectativa que tinha para mim, que era que eu fosse simplesmente feliz. Ali escrevi:  "Quando perguntaram a John D. Rockefeller quanto dinheiro era suficiente, ele respondeu "mais um pouco". Quando perguntei à minha mãe o que ela gostaria que eu fosse quando crescesse, ela respondeu que preferia um filho balconista e feliz a um dono de indústria infeliz. Desde então procuro ser rico como um balconista feliz."> ("Ter ou não ter, eis a questão").

Em uma crônica com o título "Alta-ajuda" lembrei-me novamente dela, ao escrever: "Quando jovem acreditava. Achava que meu umbigo seria capaz de dirigir minha vida, mas depois aprendi que não. Aos 23 anos de idade voltei ao princípio que minha mãe escrevia numa tirinha de papel que me acompanhava à escola em dias de prova: "Tudo posso com a ajuda de Cristo". A frase é encontrada na carta de Paulo aos Filipenses e coloca a fonte desse "tudo" em Jesus. É por isso que hoje não acredito em "auto-ajuda", mas em "alta-ajuda". A ajuda que vem do alto."

Seus conselhos foram de grande valor para minha carreira, e quando vi um funcionário de uma empresa falando cobras e lagartos da empresa que colocava comida em seu prato todos os dias, logo me veio a inspiração para escrever: "Uma coisa eu aprendi com minha mãe: nunca cuspa no prato em que você comeu, e muito menos naquele onde ainda está comendo. Ser grato pela empresa que lhe deu guarida é uma atitude extremamente louvável. Ah, sim, você pode até argumentar que a empresa não lhe fez nenhum favor, que os empresários exploram os empregados, que o capitalismo é vil, e blá-blá-blá. Tudo bem, então deixe a barba crescer e vá morar em Cuba." ("Ingratidão").

E por falar em prato, para entender como uma pessoa consegue carregar as pesadas cargas desta vida é preciso pesquisar sua dieta. E foi assim que, em outro texto, lembrei-me de onde vinham as vitaminas, proteínas, carboidratos e sais minerais que mantinham minha mãe sã para cuidar de nós: "Ao fazer uma limpeza em minha estante, encontrei uma velha Bíblia que pertenceu à minha mãe. Não que a edição fosse tão antiga assim. É uma Bíblia na versão Ave Maria, edição Claretiana de 1981, mas está num estado lamentável, de tanto que meus pais leram o livro." ("Uma janela para o passado").

Nem mesmo uma crônica sobre como tratar o cliente escapou da influência materna. Em "Cliente de Cliente" escrevi: "É fácil um cliente meu me transformar em cliente seu. Se você duvida, experimente me contratar. Deve ser influência de minha mãe, que me ensinou a ser grato ao Banco do Brasil que contratava meu pai. O banco garantia o salário que permitia pagarmos nossas contas e contrair outras.". E ao falar da importância de buscarmos os bons relacionamentos que já temos bem pertinho de nós, antes de sairmos por aí tentando nos relacionar com quem nunca vimos, digitei estas palavras sobre o valor do networking doméstico: "O que costumo observar é que muitos desperdiçam oportunidades de networking no lugar onde já estão, com as pessoas com as quais convivem no dia-a-dia. Eu já consegui dois empregos através de amigas de minha mãe, uma cujo filho era gerente de uma empresa e outra que tinha um cunhado também ocupando uma posição gerencial." ("Networking - A importância das redes de relacionamentos").

Como profissional eu me lembro de uma palestra que ministrei para gerentes e supervisores do Banco do Brasil no Mato Grosso do Sul. Minha palestra seria para encerrar o evento (ou "para acabar com o evento", como costumo brincar), e nela contei que meu pai tinha sido funcionário do banco até se aposentar. Portanto, eu tinha sido criado na família Banco do Brasil e tinha muito em comum com aquela plateia. Desde pequeno fui aconselhado por minha mãe a prestar concurso e trabalhar naquele banco, pois tínhamos uma vida confortável com o salário que meu pai recebia  e era uma carreira bastante disputada. Por essa influência de minha mãe o Banco do Brasil ocupava um lugar todo especial em meu coração.

Ministrei a palestra com o coração na mão, pois eu estava falando a pessoas que eu considerava da família por respirarem da mesma atmosfera em que fui criado, frequentarem a mesma AABB onde eu ganhei minhas medalhas de natação e falarem a mesma língua que aprendi quando criança. Por ocasião daquele evento meu pai já tinha falecido, mas minha mãe ainda era viva. No final da palestra decidi brincar com o fato de o banco ter me contratado para aquela palestra e de minha mãe sempre aconselhar: “Filho vá trabalhar no Banco do Brasil!”. Disse a eles: “Gente, vou sair daqui agora e ligar para minha mãe, e vou dizer para ela que agora eu trabalho no Banco do Brasil!”.

Ou melhor, eu quase consegui dizer, porque mal comecei a falar senti um nó na garganta que me fez parar. Lembrei-me de meu pai que havia falecido há pouco tempo e numa fração de segundo minha vida passou diante de mim como um filme e vieram à tona as lembranças da infância e de meu pai. Comecei a chorar como criança diante da plateia. Um dos organizadores viu o que estava acontecendo e, correndo para o palco, me abraçou e arrastou para atrás das cortinas, voltando depois para encerrar o evento e fazer os agradecimentos.

Depois de tamanho vexame pensei até que seria expulso dali, mas ao contrário, as pessoas vieram me abraçar, muitas delas chorando e emocionadas, pois realmente foi um discurso de coração para coração. É por isso que considero um privilégio trabalhar como palestrante e às vezes até escancarar meu coração sabendo que, de alguma maneira, poderei ser um instrumento para tocar a vida de alguém. Agradeço sempre a Deus por ter tido a felicidade de ter sido treinado por um excelente "Personal Coach". E você?




Um comentário:

Unknown disse...

Ultimamente tenho pedido muito à Deus como proceder com meu filho,pois o mesmo não está muito interessado nos estudos.Ele tb não está mais na idade de tomar umas chineladas. Vou praticar o método de sua mãe rsrs. Linda homenagem!

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