Escrevo do quarto do resort onde estou hospedado para ministrar uma palestra daqui a pouco e falar de vendas e mudanças para representantes comerciais. Acordei cedo, fui ao restaurante tomar café e cumprimentei com um "bom dia" a todos os que fizeram contato visual. Eu não sabia quem era ou não do evento, portanto o melhor foi sorrir e cumprimentar.
Ontem à noite estive por um pouco na festa promovida pela empresa no hotel, mas não o tempo necessário para conhecer a todos ou gravar suas fisionomias. Por isso achei que aquele grupo que estava tomando café com um crachá pendurado no pescoço fosse o mesmo da noite anterior.
De uma das mesas uma mulher sorridente, das que cumprimentei com um sorriso, me convidou:
- Venha sentar-se conosco!
Sentei-me em uma mesa com mais 5 ou 6 pessoas e logo perguntei se o nosso evento era o único no hotel, pois vi que o restaurante estava meio vazio.
- Acho que não - respondeu ela. - Tem um outro grupo com evento aqui, pois ontem à noite eles estavam dando uma festa.
- Xi... - exclamei - então eu sou do outro grupo!
Descobri que estava na mesa de médicos reumatologistas participando de um encontro. O café foi muito agradável, pois logo se interessaram pelo assunto que veio à tona: a necessidade que também os médicos têm de saberem promover e vender seus serviços de forma ética. Obviamente o assunto surgiu depois que introduzi minha "conversa de elevador".
Todo profissional deve ter na ponta da língua uma "conversa de elevador", e o palestrante não é exceção. Trata-se de um script curto e preciso, nem um pouco do tipo propaganda, que diz tudo o que você é, faz ou vende. A "conversa de elevador" é sutil, nada intrometida, e usa um gancho para se manifestar. En passant.
Imagine que você esteja em um elevador em um prédio comercial e alguém comenta consigo mesmo ou com alguém ao lado:
-- Parece que vai chover...
É a deixa para você introduzir sua "conversa de elevador":
-- Ai, nem brinca... preciso viajar para fazer uma palestra e não gosto de dirigir com chuva...
-- O sr. é palestrante?
Se não terminar seu script ainda no elevador, desça no mesmo andar da pessoa que perguntou.
A conversa à mesa do café foi divertida e voltada às amenidades. Tudo o que fiz foi dizer meu nome, mas não achei que fosse conveniente distribuir cartões. E se você já leu algum livro de etiqueta deve saber que nunca deve dar a mão para cumprimentar ou se despedir de pessoas à mesa.
Nessas horas também é preciso evitar ser inconveniente e "vendedor" no mau sentido da palavra. Se quiser falar de seu trabalho vá introduzido com conta-gotas sua "conversa de elevador" e principalmente procure fazer perguntas sobre o trabalho do outro, porque todo mundo gosta mesmo é de falar de si.
Eu estava terminando meu café quando um outro médico veio juntar-se a nós. Achando que eu fosse médico, começou a apresentar à discussão de todo o grupo o caso de um paciente, enquanto um aqui e outro ali dava uma opinião. Fiquei boiando naquele oceano de termos médicos, portanto achei que aquele era o sinal para eu dar o fora. Mas não sem um "grand finale":
-- Se vocês me dão licença, preciso me preparar para minha palestra... E sobre o diagnóstico desse paciente, eu diria que é lupus. Não sou médico, mas assisto "House".
E foi assim que me despedi, deixando aquele grupo de médicos com uma boa impressão e muitas gargalhadas. Enquanto me virava para sair, ainda pude escutar o que tinha chegado depois dizendo:
-- E não é que pode ser lupus mesmo?
Dicas do palestrante Mario Persona para palestras, palestrantes, mestres de cerimônia, comediantes, oradores, conferencistas, professores, advogados, políticos, estudantes, apresentadores, líderes, repórteres, jornalistas, formadores de opinião...
Pesquisar este blog
23/06/2012
O palestrante e a conversa de elevador
Marcadores:
conversa de elevador,
lupus,
marketing pessoal,
médicos,
palestrante,
vendas
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Postagens populares
-
Sou palestrante, e isso me coloca entre a população de risco de orgulho. Sim, é fácil você ser vencido pelo orgulho quando tem tantas oportu...
-
A não ser que você seja um autor famoso, esqueça ganhar dinheiro com livros no Brasil. Evitar o e-book também não protege ninguém de ter o l...
-
Depois de mencionar o humor na palestra em minha última mensagem, fiquei preocupado que algum palestrante pudesse ir correndo à banca compra...
-
Todo palestrante deveria ser criativo (leia-se "mão de vaca" ) na hora de promover o seu trabalho, e a criatividade inclui fazer m...
-
Ser palestrante acaba sendo uma conseqüência de uma carreira. Quando você tem alguma atividade, acaba extravasando o conhecimento que tem de...
-
Em 2002 fui contratado por uma empresa para criar um curso de atendimento dirigido a recepcionistas de consultórios médicos dentro do concei...
-
Minha última postagem “O palestrante e o seminário virtual” causou um salto nas estatísticas de visitas deste blog e também gerou críticas ...
-
Tudo na vida começa com algum tipo de planejamento. Até para fazer uma viagem de automóvel você precisa traçar uma estratégia, ou um caminho...
-
Não existe um preço fixo para palestras, mesmo porque não há duas palestras exatamente iguais. Posso dar um treinamento in company de várias...
-
Certa vez, em uma reunião prévia dos palestrantes com o cliente para um grande evento, este perguntou a cada um de nós palestrantes qual equ...
Um comentário:
Seu diagnóstico foi terrível, mas a história foi ótima!
Postar um comentário