O palestrante prevenido

Já falei aqui sobre o que vestir nas palestras, mas apenas para homens. Nem me arrisco dizer o que uma mulher deve vestir porque certamente vou falar bobagem. Mas para o homem vale a regra: leve o mínimo de roupa para não ter bagagem para despachar.


Isso não quer dizer que você fará a palestra de sunga. É preciso discernimento para entender a ocasião. Por exemplo, eventos públicos à noite costumam exigir terno e gravata. Eventos em empresa podem ou não exigir gravata e às vezes um blazer resolve a questão (aliás blazer é o coringa do palestrante). Eventos de dia em lugares quentes podem ser na base da camisa mesmo, mas ainda assim é preciso ficar atento para não ser você o único diferente.

De qualquer modo, o objetivo é sempre reduzir a bagagem. Se você for daqueles que só dormem com um travesseiro de estimação e abraçado a um enorme urso de pelúcia, é melhor buscar outra profissão. Você certamente acabará tendo de emendar viagens e não irá querer que a mala despachada (com urso e travesseiro) acabe aterrissando em outro aeroporto.

Mas mesmo o mínimo precisa ser pensado. Por exemplo, eu sempre levo duas camisas para a apresentação (além das que possa levar para ficar no hotel). Por que duas? Porque certa manhã eu me levantei no hotel, abri a mala e pequei a única camisa social que tinha levado para usar na palestra (que aconteceria em alguns minutos). Foi quando descobri que a empregada havia colocado em meu guarda-roupa em casa uma camisa social de meu filho, alguns números menor. Na pressa eu simplesmente peguei, dobrei e coloquei na mala.

Felizmente eu ainda tinha a camisa com a qual tinha viajado, que estava "pouco" suja. Uma gravata e um paletó deixaram à mostra só a parte limpa. Algumas camadas de desodorante também ajudaram. Então, não se esqueça: camisa titular e camisa reserva; calça titular e calça reserva, de preferência combinando com a camisa e o blazer ou terno, se for o caso (quem é da minha idade ainda se lembra da Ducal, loja de São Paulo que vendia um terno com duas calças). Sapato basta o que você leva nos pés. Cuecas e meias de acordo com os dias que vai ficar fora (usar no avesso não é aconselhável).

Sabe por que me lembrei de falar deste assunto hoje? Porque ontem, no avião, o passageiro ao lado decidiu "chamar o Hugo" e por pouco não levei um banho de pizza de calabresa com cerveja. No caso dele nem aquele saquinho de "indisposição" iria ajudar. Nele cabe no máximo uma latinha de cerveja de 350 ml, e estamos falando aqui de litros e mais litros de... cerveja! Bem que ele caprichou, mas talvez o álcool tenha feito com que ele errasse o alvo (no caso, eu!), mas mesmo assim sobrou um aperitivo para a perna esquerda de minha calça. Felizmente eu tinha levado mais uma calça para a palestra. É disso que estou falando.

P.S. Uma vez um leitor me censurou por usar a expressão "chamar o Hugo" (porque ele se chamava Hugo, obviamente). Disse que era politicamente incorreto. Espero que você não ligue de por eu "dar uma de Mané" e usar a expressão outra vez. Afinal, eu, um mero "João ninguém", às vezes também sou "Maria vai com as outras".