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05/12/2010

O palestrante e o esgotamento

Um dos problemas de quem faz palestras com frequência é o cansaço. Talvez seja a idade, mas para mim é realmente um problema. Horas e horas de espera em aeroporto, viagens intermináveis de avião e carro, choques térmicos causados pelos diferentes climas e ambientes com ar condicionado, e até mesmo o famoso jet lag, a fadiga de viagem (lembre-se de que estamos em um país continental com até 3 fusos horários), podem cobrar seu preço.


Então aqui vai uma dica: evite a todo custo aceitar convites para atividades paralelas, como visitas a pontos turísticos, contatos com políticos e autoridades, e principalmente noitadas em véspera de evento. Na hora da palestra você estará menos do que deveria estar, em termos de atenção e vitalidade, e quem vai perder com isso é seu cliente que está investindo em você.

Dificilmente um cliente no Rio, em São Paulo ou Curitiba irá convidá-lo para um tour pela cidade, mas isso é muito comum em cidades menores. O palestrante às vezes é visto como alguém que está tendo uma oportunidade única de conhecer o local (e o cliente de mostrá-lo a você), por isso é comum inventarem mil e uma atividades que o deixarão sem fôlego para a palestra.

Uma vez um cliente me pegou em um aeroporto depois de quase 5 horas de viagem, contando o tempo de locomoção de casa ao aeroporto, a espera do embarque e a viagem propriamente dita. Depois de me pegar, viajamos algumas horas de carro em pista simples a uma velocidade de cem sustos por hora, até uma churrascaria rodízio daquelas que fazem a fortuna dos cardiologistas.

Antes de me levar para o hotel, decidiu que eu iria adorar conhecer a principal atração da cidade, uma cachoeira perdida em uma floresta (era tão longe que posso jurar que estive em Pandora), certamente um lugar maravilhoso para quem sai de casa para visitar uma cachoeira. De lá ainda passamos em um estúdio de TV para uma entrevista em um canal local e, finalmente, o hotel - meia hora antes do início da palestra. Foi o tempo de entrar no banho para tirar o suor da viagem, vestir a roupa ainda molhado e sair dando o nó na gravata a caminho do evento.

Fiz o que pude para manter a peteca no ar, mas certamente o que o público viu no palco aquela noite foi um velho esgotado balbuciando ideias sem muito brilho ou disposição. Se eu soubesse que faria a palestra de língua de fora nem teria me preocupado em levar gravata.

Portanto fica aí a dica: Avise seu cliente que você precisa de algumas horas para se preparar para a palestra, mesmo que seja dormindo que você fará isso. Ele tem a melhor das intenções em servir de guia turístico, como você também faria, mas você sabe que não está ali a passeio e atividades extras podem derrubar sua performance. Portanto seja você o administrador desta parte do evento: a sua integridade para o momento da palestra.

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